A casa dos três pátios não é apenas uma casa com três pátios. É uma casa onde o espaço envolvente é tão importante como a própria casa; é uma casa onde os espaços se encontram perdidos na própria fluidez do espaço; é uma casa que oferece a oportunidade de nos sentirmos perdidos, sem nunca o estarmos, na realidade.
É este o projecto que o desafiamos a conhecer. Situado em Benavente, com um lago a Norte e o sol quente a Sul, o edifício procura construir na paisagem, uma linguagem própria, sendo no entanto esta, uma continuidade fluída da língua mãe, que é a Natureza.
Organizada num volume principal, a habitação possui dois pisos e claro, três pátios, todos eles com uma história diferente para contar: o primeiro pátio é tímido e reservado, fecha-se em si próprio e guarda apenas no seu espaço um sobreiro que já ali vivia antes; o segundo pátio é funcional, situado junto ao quarto-das-máquinas, sempre pronto para desempenhar funções de serviço; o terceiro pátio funciona enquanto elemento mediador entre a casa e a orientação Norte, com um elemento especial que mais à frente iremos descobrir…
Resta-nos dizer que este projecto ficou a cargo do arquitecto português, Miguel Marcelino.
São os sobreiros que inscrevem na paisagem o enquadramento visual que acolheu a casa dos três pátios.
Materializada sob a forma de um volume compacto, esta habitação propõe uma abordagem distinta face à envolvente. Funcionando os pátios enquanto elementos mediadores da relação entre o interior e o exterior, é através deles que os lugares criados pelo arquitecto, integram uma fluidez espacial orgânica e natural.
No exterior, uma piscina oferece ao visitante a possibilidade de se perder na envolvente, desfrutando de uma conexão íntima com um dos elementos da terra, a água.
A orientação a Norte possui uma vista privilegiada sobre a envolvente e foi por isso que o mais largo dos pátios tomou forma neste lugar.
É através desta escadaria que é feita a transição do pátio para a zona da piscina, sendo esta discreta e subtil de modo a não criar obstáculos que distraiam o olhar da magnífica paisagem envolvente. Ao subirmos as escadas somo surpreendidos com uma linha envidraçada que permite aos habitantes uma vista interior privilegiada sobre o pátio e a paisagem.
Vamos observar este pátio com mais atenção…
O terceiro pátio é um lugar especial, encerra-se em si a partir de um gesto superior: um rasgo horizontal que emoldura a envolvente e abraça o habitante.
A sensação é a de que nos encontramos num espaço semi-exterior, que enquadra o que de melhor o local possui: o céu e a paisagem.
Os três pátios desenvolvem-se numa sequência que vai desde o mais privado e introspectivo até ao mais aberto e exterior, sendo este, o último referido.
Envolvida em si mesma, a habitação espreita para lá dos muros. Muros esses cuja configuração é delimitada pela sombra que o sobreiro inscreve na sua superfície. Atrás do muro a habitação revela-se num jogo de transparências proporcionado pela sua materialidade ora forte (betão) ora leve, subtil e translúcida (vidro).
Esta habitação minimalista foi construída em betão com o objectivo de refrescar os interiores e os pátios da casa, tornando-os em locais extremamente confortáveis face ao calor sentido naquela zona.
Os grandes envidraçados projectam o interior para o exterior, e vice-versa, no entanto devido à criação das zonas de pátio, a privacidade está sempre assegurada, assim como o controlo da insolação directa no edifício.
É neste pátio que encontramos detalhes subtis que visam e promovem a vida familiar no exterior da habitação, como é o caso desta mesa/banco pensada e projectada directamente com o muro.
O sobreiro proporciona o sombreamento do local, tornando-o perfeito para refeições ou outras actividades ao ar livre.
No interior paira a serenidade. O branco aliado à caixilharia de madeira relembra-nos que esta é uma casa puramente rústica embora contemporânea na sua abordagem conceptual.
Também o pavimento em betão à vista nos relembra que este é um espaço jovem e sofisticado que reúne o melhor da tradição com a contemporaneidade.
Pela janela é possível observarmos a forma como a paisagem pinta os interiores com as suas tonalidades naturais, como se de um quadro se tratasse.
Entre o interior e o exterior existe uma linearidade que se propaga e é transversal aos espaços. No entanto, através da materialidade e iluminação, foi possível criar, para ambos os espaços, auras e personalidades distintas.
No interior, a luz quente convida-nos a entrar; no exterior o pátio vermelho convida-nos a sair, e é neste jogo de dualidades que a habitação se divide mantendo um diálogo constante com a envolvente e o lugar.
Terminamos com uma imagem realmente especial, uma fachada cega do edifício onde se revela uma sombra mística proporcionada pelo sol de fim de tarde.
Ao assumir um carácter minimalista, a habitação deixa-se transformar pela envolvente e esse é, sem dúvida, um dos pontos que caracterizam este projecto! Verifique também este livro de ideias, onde poderá conhecer as mais distintas fachadas portuguesas!